segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Apanhar lixo do chão... nem sempre, nem nunca...

Há algum tempo, anos diria, que sou capaz de apanhar lixo dos outros. É algo nobre para com o ambiente. Salvar os resíduos que andam perdidos pelo mundo.

Mas se é verdade que sou adepta da ecologia, também sinto algum respeito por mim e algum nojo de certas coisas... diria que, apanho eventualmente algum lixo do chão, assim quando ninguém está a ver, quando estou ao lado de um caixote ou sei que vou passar ao lado de um caixote de lixo ou ecoponto. Por exemplo quando saiu de casa para apanhar o metro e obrigatoriamente passo pelo ecoponto. Mas não tenho por hábito encher a minha mochila de lixo dos outros, não chego a tanto, até porque já a encho com o meu próprio lixo.

Bem com excepção das tampinhas que apanho em qualquer lado, à frente de qualquer pessoa e ponho nos bolsos exteriores da mochila. Por são resíduos pequenos e além de terem como destino a reciclagem também são uma forma de solidariedade. Como expliquei na postagem Tampinhas.

Quando andava na escola primária, antes do início da época balnear, costumávamos ir nos autocarros da Câmara limpar as praias. Nós e os professores apanhávamos o lixo da praia, dado que tinha entre seis e dez anos não devíamos apanhar imenso lixo, mas acho que era uma boa iniciativa para nos sensibilizar. Não me lembro se na altura separávamos o lixo para a reciclagem ou se simplesmente o apanhávamos, já se passaram cerca de vinte anos, mas lembro-me de adorar aquela actividade. Talvez tenha sido aí que começou o meu fascínio e interesse pelo ambiente. Aliás, acho que todas as actividades e iniciativas que fiz na escola primária contribuíram muito para ser quem sou. Não só aí, mas também nos escuteiros, onde aprendiamos a ideia de respeito pela natureza. Em casa, os meus pais sempre foram muito ligados à terra. E claro, ter seguido Geografia e depois ter trabalhado na área ambiental.

Mas desde que abri a loja que apanhar lixo do chão se tornou um dever, claro que podia fazer como maioria dos lojistas, ou seja varrer o lixo que as pessoas deixam na frente da minha loja para a frente das outras lojas ou para o meio da estrada... e depois esperar que o vento trouxesse tudo novamente para a minha porta. Mas a minha face ecológica e limpa não o permite, diria que também o facto de eu ter noção que existe vento. Podia também varrer e pôr no lixo comum, por vezes faço-o, mas tento separar pelo menos os objectos maiores.

Um destes dias cheguei à loja e tinha o chão cheio, mas cheio de embalagens plásticas, lá foi a Sónia apanhá-las e claro que já que lhes estava a mexer meteu no sítio correcto, no caixote amarelo. Quando reparei o saco do lixo estava cheio de garrafas de vidro de cerveja (nós não vendemos cerveja, nem sequer embalagens de vidro). O vidro ser posto no contentor indiferenciado é das coisas piores para mim, já que o vidro demora tempos infinitos a degradar-se, o vidro novo é feito a partir de areia causando problemas nos leitos dos rios e porque o vidro é 100% e infinitamente reciclável (como expliquei na postagem Vidro - o meu material preferido). Sei que existe, em alguns ecocentros, triagem do lixo indiferenciado (por exemplo, algumas coisas conseguem ser resgatas e ainda serem recicladas, isto se não estiverem contaminadas), mas dado que o vidro se parte, a probabilidade de ser resgatado e reciclado é menor. Não que tenha dados sobre isso, mas acho que sim.

Então peguei num saco de plástico velho, usei-o como luva para resgatar as garrafas de vidro, lá as tirei para levar para o vidrão. Já estava tão farta que nem a minha veia ecológica me permitiu resgatar mais coisas, nomeadamente plásticos no meio daquele porcaria toda, fechei o saco sem me importar com o resto que lá estava e meti no caixote indiferenciado. A pensar que não tinha salvo tudo, mas ao menos tinha salvo o vidro daquele fim triste num aterro.

Quando me vou embora pego no saco das garrafas para o vidrão... mas claro que as pessoas nem sequer beberam as cervejas até ao fim, por isso já o saco estava cheio de líquido. E eu detesto o cheiro da cerveja, logo fiquei com as mãos com aquele cheiro horrível. Tive de levar o saco todo molhado para o carro porque em Lisboa não há plasticões na rua. Lá fui com aquele cheiro, ainda por cima agora que tenho o olfacto apurado.

É bom ser ecologista e preocupada com o lixo, mas há dias que o lixo nos tira do sério. Conclusão, percebo porque as pessoas acham que é mais fácil pôr tudo no mesmo contentor ou mandar para o chão, realmente dá bem menos trabalho. Mas pronto, isto são dias, mas a convicção ideológica acima de tudo. Quer dizer mais ou menos, acho que devia apanhar mais lixo, mas chateia quando percebemos que andamos a apanhar o lixo dos outros e estes nunca se importam com nada. Por isso, neste momento, apanhar lixo do chão para mim é daquelas coisas que nem sempre, nem nunca. Posso apanhar e acho que devo apanhar o lixo, mas não me quero tornar uma catadora oficial do lixo dos outros.

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