domingo, 8 de novembro de 2015

Inundações - calamidade ou ganância?

A semana passada, dia 1 de Novembro, as imagens das inundações em Albufeira e outros sítios do Algarve encheram as notícias.


Imagem retirada de http://www.dn.pt/sociedade/interior/camara-de-albufeira-vai-analisar-pedido-de-calamidade-publica-4865917.html
Nos jornais e telejornais só se ouviu os enormes estragos provocados pela chuva e consequentes inundações, a quantidade de lojas que foram arrasadas, carros levados, um homem desaparecido em Boliqueime e depois encontrado morto. Imagens verdadeiramente assustadores e que ninguém gostaria de ter perto da sua casa. No entanto, lá pelo meio das notícias também se ouvia falar de ribeiras encanadas, estradas construídas por cima de ribeiras e construções em leito de cheia.

E aqui está a grande questão. É natural existirem cheias sobretudo quando existem precipitações intensas. Aliás, se nos lembrarmos daquelas distantes aulas de histórias, as cheias eram mesmo algo bastante positivo pois tornavam as margens dos rios bastante mais férteis.

As inundações embora sejam provocadas por causas naturais, a precipitação neste caso, ocorrem devido à acção antrópica. Porque os sistemas urbanos não têm capacidade de escoar toda a água, não há infiltração, os sítios onde a água devia escoar naturalmente estão construídos e muitas vezes a isto tudo ainda ajuda a falta de limpeza dos sistemas de escoamento de águas pluviais.

Todos juntos fazem esta bela porcaria. E isto não são catástrofes naturais, até as podem chamar assim, mas não, isto são catástrofes humanas. É culpa do urbanismo e ordenamento do território, neste caso desordenamento que se espalhou pelo país inteiro. Com o caso algarvio bem no topo daquilo que não se deve fazer.

No Algarve parece que tudo é permitido, a bem do turismo e da economia, tudo se constrói, em qualquer sítio. E as culpadas são as Câmaras Municipais que precisam de dinheiro e que vão facilitando, facilitando.

O que me fascina é que não estamos a falar de coisas feitas há 100 ou 50 anos, quando não existiam conhecimentos  e as pessoas eram analfabetas. Nesse tempo, parece que os poucos conhecimentos permitiam perceber que as ribeiras existiam para escoar água. Grande parte destas construções são recentes, sim num momento onde há imensa gente que estudou e estuda estes fenómenos. Eu estudei Geografia, área de Urbanismo e além de mim eram imensos e sabem do meu ano quantos que eu saiba estão a trabalhar num organismo público? Acho que um. E não sei até que ponto as opiniões dele valem muito. A verdade é que as decisões continuam a ser sobretudo políticas e económicas.

E depois, é o azar. E quem fala em inundações, fala em outros problemas como a falta de areia nas praias, os riscos de desabamentos de arribas, etc, etc.

Os efeitos das decisões são conhecidos, mas parece que não são tidos em conta. Pior é que uma vantagem económica momentânea pode trazer graves prejuízos ambientais, sociais e mesmo económicos no futuro.

Tive um professor na faculdade que dizia que ser urbanista ou planeador do território é tão importante como ser médico a nível das vidas das pessoas. Mas se um médico mata alguém por negligência é um problema gigante. Mas ninguém vai ter com o planeador que anos antes tomou uma decisão que no futuro matará 100 ou 200 pessoas. E é essa a realidade.

1 comentário:

  1. Olá Sónia,
    Verdade, é culpa do desordenamento deste país...
    Um abraço,
    Mab

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